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Jorge Cândido Berkeley Cotter

(Geólogo)
1845-1919


Nasceu este erudito geólogo no dia 19 de Dezembro de 1845.

Entrou para o serviço da Nação em 1865, como coadjuvante da extinta Intendência de Obras Publicas, passando cinco anos depois, em 1870, por iniciativa de Carlos Ribeiro, a servir na Secção Geológica, onde com pequenas intermitências se conservou até à sua aposentação em 1918.

Carlos Ribeiro além de ser o investigador incansável, o geólogo ilustre e cujos trabalhos ainda hoje são consultados com proveito por exprimirem a última palavra em muitos e variados pontos de ciência, tinha o condão também de saber escolher os colaboradores e continuadores da sua grande obra, E foi assim que conseguiu reunir em torno de si a constelação de naturalistas como Nery Delgado, Paul Choffat e Berkeley Cotter, cada um dos quais no seu campo de estudos e investigações originais, ilustraram cientificamente os seus nomes e prestaram ao pais serviços que é desnecessário encarecer e acrescentaram o brilho do instituto em que serviram.

Berkeley Cotter logo que deu entrada nos Serviços Geológicos dedicou-se ao estudo dos diversos tipos de terreno, fixando porém particularmente a sua atenção sobre as formações do terciário marinho.

Esto trabalhos já haviam sido iniciados por Carlos Ribeiro em colaboração com o Dr. Pereira da Costa, lente da Escola Politécnica de Lisboa e um dos fundadores da Comissão Geológica, os quais tinham dado uma ideia ou esquema da sucessão estratigráfica e do carácter paleontológico deste nível geológico. Inspirando-se em tais estudos e propriamente nos resultados de investigações próprias, Cotter conseguiu estabelecer o seu primeiro ensaio de classificação sistemática do terciário marinho inferior e médio do nosso pais.

A ele se deve também em grande parte a organização do "Museu Geológico" pois se encarregou da. aquisição classificação dos exemplares terciários, enquanto Nery Delgado e Paul Choffat procediam de igual forma respectivamente para as colecções paleozóica e mesozóica.

Na sua longa carreira Cotter demonstrou exuberantemente a par da sua profunda inteligência a sua invulgar aptidão como observador, dando a lume obras e escritos de alto valor científico.

Em 1877 o jornal de 1ª classe da Academia das Ciências de Lisboa, inseriu o trabalho intitulado "Contribuições para o conhecimento da fauna terciária de Portugal - Fosseis das bacias terciárias marinhas do Tejo, do Sado e do Algarve".

A notável memória "Étude Geologique du Tunnel du Rocio" publicada, em 1899 pelo Dr. Paul Choffat, contém também o capítulo "Liste critique des restes d'animaux tertiaires rencontrês dans le tunnel du Rocio" devido a Berkeley Cotter.

Quando P. de Loriol em 1896, publicou a sua "Description des Échinodermes tertiaires du Portugal", Cotter encarregou-se do "Tableau stratigrapbique" que trata da sucessão dos horizontes miocénicos de Lisboa, indicando os afloramentos paralelos ao Sul do Tejo.

De colaboração com o antigo presidente da Sociedade Geológica de França, Gustave F. Dollfus e como engenheiro de minas Jacinto Pedro Gomes publicou em 1904 uma memória sobre os moluscos terciários de Portugal, acompanhada de uma explicação sumária e de um esboço geológico.

As Comunicações dos Serviços Geológicos encerram também trabalhos dignos de menção devidas a este geólogo, como as suas notícias sobre os fósseis terciários de Arquipélago da Madeira e da Ilha de Santa Maria nos Açores.

Em virtude da grande facilidade com que manejava as línguas e da apresentação, trato, e maneiras fidalgas de um verdadeiro gentleman, foi escolhido por várias vezes para missões no estrangeiro, nas quais sempre se houve com a maior galhardia.

Assim em 1878, foi nomeado Adjunto do Comissário da Secção da industria, Fabril na Exposição de Filadélfia e três meses depois secretário do Comissário Régio Conselheiro António Augusto de Aguiar, encarregado de pôr em execução na Índia o tratado luso britânico de 1878. Ao regressar desta missão foi nomeado novamente secretário do mesmo estadista, que. tinha sido, encarregado das negociações do Caminho de Ferro de Mormugão com a Statford House Comitte.

Constituíram estas as maiores ausências de Cotter ao Serviço Geológico, perdendo um pouco a ciência com elas, mas ganhando o pais com os grandes serviços que lhe prestou.

A Academia das Ciências de Lisboa, chamou a si como sócio correspondente, na sua sessão de 16 de Março de 1905, sendo também membro correspondente da Sociedade Geografia de Lisboa.

Em 1875 foi classificado conductor de segunda. classe do quadro auxiliar de Minas, sendo promovido a conductor principal em 1899, categoria com que se aposentou.

Era condecorado com os graus de cavaleiro das Ordens de Christo e de Izabel a Catholica de Espanha.

Apesar da sua robusta organização, a idade e as fadigas diminuíram nos últimos tempos da sua vida o amor pelos trabalhos de campo, mas as suas faculdades mentais e o seu interesse pela ciência, a que dedicou os mais bem vividos anos da sua idade, mantiveram-se até ao fim.

Caracter franco e generoso, bom amigo e excelente colega, as suas raras e nobres qualidades apresentam-no como um modelo de honra e de protótipo de homem de bem.

Cotter tinha o condão de aliar um carácter por natureza firme incapaz de transigências e desfalecimentos a uma clareza e afabilidade que prendiam e encantavam desde logo e tudo realçado por um talento inato, apurado por um estudo constante.

Faleceu em Lisboa a 28 de Novembro de 1919, tendo sido a sua morte pranteada por todos aqueles que tiveram a felicidade de o conhecer e um rude golpe para os "Serviços Geológicos" que perderam nele um dos seus mais constantes e prestimosos colaboradores preciosos.

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