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Infante Dom Henrique, o Navegador

(Príncipe português )
1394 - 1460


Príncipe português nascido no Porto, considerado um dos grandes heróis da História de Portugal por seu relevante papel na expansão ultramarina portuguesa, especialmente como o mentor dos Descobrimentos. Terceiro filho de D. Filipa de Lencastre e de D. João I, formou com seus irmãos, D. Duarte, D. Pedro,D. Fernando e D. João, a chamada Ínclita Geração. Viveu parte da sua vida no Algarve, onde adquiriu seu gosto pela ciência em especial pela Matemática e suas aplicações à ciência náutica. Aos vinte anos, D. João I resolveu preparar a expedição a Ceuta (1414) e incumbiu o infante para tal. Este foi ao Porto, sua cidade natal, para organizar a frota. A participação da população foi intensa, tendo surgido desse evento a alcunha de tripeiros dos habitantes do Porto, pois conta-se que estes teriam oferecido toda a carne que tinham para a armada, e reservado para si as tripas. Em junho do ano seguinte os trabalhos estavam concluídos e a expedição estava preparada e pronta para partir. Num total de cinqüenta mil homens, a Armada seguiu para sul, ao longo da costa de Portugal. Os mouros ofereceram tenaz resistência, mas a cidade foi finalmente tomada (1415), naquele que viria a ser um marco importante na História da Europa e do Mundo. Assim esse foi seu primeiro feito importante e deu início à expansão portuguesa. Ele e os irmãos foram armados cavaleiros pelo pai, e ainda recebeu o título de Duque de Viseu e Senhor de Covilhã. Realizou por sua iniciativa expedições às Canárias (1416) e, por carta régia, foi-lhe concedida a defesa da cidade de Ceuta. Aos poucos anos foi se tornando uma das mais significativas da sua época, posição consolidada quando assumiu a administração da Ordem de Cristo (1418) por ordem do papa Leão X. Em seguida seu pai o empossou como governador do Algarve (1419). A seu serviço os primeiros navios chegaram à Madeira (1419), aos Açores (1427) e à costa Africana depois do Cabo Bojador (1434). Os esforços estavam concentrados na ultrapassagem desse cabo. O referido cabo mais não era do que uma baixa linha de areia da orla do deserto do Saara que se projetava para o oceano. No espaço de doze anos, os navegadores hesitaram em ir para além das Canárias. O tempo ia passando e a paciência do Infante ia-se esgotando com os sucessivos relatos de horrores nunca antes imaginados. Quando Gil Eanes regressou com mais algumas das habituais desculpas (1433), o Infante não se conteve e o obrigou a voltar e dobrar o cabo. No ano anterior (1433) já havia conseguido a exclusividade da indústria do sabão, o que aumentou os seus valiosos rendimentos, mudou-se para Sagres, ou cabo Sagrado (1434), onde fez o seu próprio quartel-general e fundou um Centro de Estudos de Náutica, Astronomia, Cosmografia e Ciências correlatas, que com o decorrer do tempo, transformou-se na famosa Escola de Sagres. Foi nesse escarpado promontório português, escolhido propositalmente por sua posição geográfica e conformação geológica, que mandou edificar um observatório astronômico, o primeiro conhecido na Europa, sendo tão grande a fama deste centro marítimo que Veneza mandou emissários a Portugal para negociarem a sua compra. Sagres passou, assim, de um rochedo à beira do Atlântico, a celeiro de grandes navegadores que, desafiando as lendas e os mistérios, alargaram as fronteiras de Portugal e iniciou uma nova era da história. Dezenas de especialistas em navegação viveram e trabalharam juntos durante boa parte do século XV. Lá cosmógrafos, construtores de barcos, capitães, pilotos e marinheiros ajudaram Portugal a realizar avanços tecnológicos na área da navegação. O astrolábio, por exemplo, instrumento de origem árabe que ajudava os navegantes a se guiarem pelas estrelas, foi aperfeiçoado, novas técnicas para construção de barcos foram inventadas, mapas de ilhas e da costa africana foram redesenhados etc. Depois do desastre de Tânger (1437) onde o exército português foi derrotado e morreu seu irmão D. Fernando, foi incumbido pelo regente D. Pedro de proceder ao povoamento de algumas ilhas dos Açores (1439). Retomou as explorações (1441) e chegou a Guiné e ao arquipélago de Cabo Verde. Em função desses sucessos D. Pedro concedeu-lhe o monopólio da navegação no litoral africano (1443). No ano seguinte fundou da Companhia de Lagos e dois anos depois (1446) ordenou o início da construção do Forte de Arguim. Recebeu a doação do cabo de S. Vicente, com uma légua em redor (1448) e foi nomeado governador da praça de Ceuta (1450), mesmo ano em que foi publicada uma bula do papa Nicolau V, concedendo a D. Afonso V todos os territórios descobertos a mando do Infante. Três anos depois (1453) deu-se a conhecer o manuscrito Crônica do Descobrimento e Conquista da Guiné, de Gomes Eanes de Azurara, texto que tratava o infante como o herói de todas as conquistas e que deu início a transformação de seu nome em um mito. Morreu solitário em Sagres, um mês depois de fazer o seu testamento, com 66 anos de idade, afastado da corte e ausente de amigos. Sepultado em Santa Maria de Lagos, foi trasladado para o Mosteiro da Batalha, para a capela do Fundador. Na fachada do sarcófago foi esculpida a sua esfinge e, o longo do friso, lê-se a frase que sempre fez questão de cumprir: Talent de bien faire, ou seja, Vontade de bem-fazer. Mesmo sem ter sido um grande navegador, foi o impulsionador, dinamizador e organizador do empreendimento português das descobertas, especialmente as realizadas ao longo da costa africana, iniciando o grande ciclo dos descobrimentos lusitanos. Católico convicto, no entanto, não chegou a se casar. Empenhou a vida, alguns sonhos e muitas aventuras, para impulsionar navegadores na descoberta de outras terras. Em Sagres se instalou e aprendeu os mistérios do mar. Tinha os melhores mapas, contratou cartógrafos, navegadores, geógrafos e construtores navais que, com as informações trazidas pelos marinheiros que regressavam das expedições, fizeram deste centro o baluarte dos conhecimentos náuticos da Europa. A Índia era o horizonte de suas ambições. Pretendia romper a lenda tenebrosa do Cabo Não, navegando ao longo da costa africana até achar a passagem no desconhecido extremo sul do continente, descobrindo o caminho para o Oriente e fazer a ligação marítima para a Índia. Não viveu o suficiente para ver esse sonho concretizado, o que só foi conseguido vinte e oito anos mais tarde, quando o Cabo das Tormentas foi enfim contornado por Bartolomeu Dias. Com a morte do Infante (1460), Sagres foi abandonada, e o processo de investigação ficou a cargo da Coroa nas mãos de D. João II. Já no início do século XVI a localidade foi invadida e saqueada pelo pirata inglês Francis Drake e, por esse motivo, hoje inexiste documentação que permita verificar a atividade da Escola de Sagres. Juntamente com Nuno Álvares Pereira e Camões, é considerado um dos maiores construtores dos sentimentos da nacionalidade portuguesa.

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