Antônio Francisco Lisboa (Aleijadinho)
(Artista)
Vila Rica, hoje Outro Preto MG por volta de 1730
em algum dia de 1814
Aleijadinho
Visão de mulato, o caráter de brasilidade na concepção do barroco, e a saúde, robustez e dignidade de sua obra, aliaram-se para fazer do Aleijadinho o maior e mais admirado arquiteto e escultor de que se tem notícia em todo o Brasil colonial.
Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, nasceu em Vila Rica, hoje Outro Preto MG, por volta de 1730. Era filho natural de um mestre-de-obras português, Manuel Francisco Lisboa, um dos primeiros a atuar como arquiteto em Minas Gerais, e de uma escrava africana ou mestiça que se chamava Isabel. Tudo o que se sabe de sua vida procede do livro Traços biográficos relativos ao finado Antônio Francisco Lisboa (1858), publicado, mais de quarenta anos depois de sua morte, por Rodrigo José Ferreira Bretãs.
A formação profissional e artística do Aleijadinho é atribuída a seus contatos com a atividade do pai e a oficina de um tio, Antônio Francisco Pombal, afamado entalhador de Vila Rica. Sua aprendizagem, além disso, terá sido facilitada por eventuais relações com o abridor de cunhos João Gomes Batista e o escultor e entalhador José Coelho de Noronha, autor de muitas obras em igrejas da região. Na educação formal, nunca cursou senão a escola primária.
O apelido que o celebrizou veio de enfermidade que contraiu por volta de 1777, que foi aos poucos deformando e cuja exata natureza é objeto de controvérsias. Uns apontam como sífilis, outros como lepra, outros ainda como tromboangeíte obliterante ou ulceração gangrenosa das mãos e dos pés. De concreto se sabe que ao perder os dedos dos pés ele passou a andar de joelhos, protegendo-os com dispositivos de couro, ou a se fazer carregar. Ao perder os dedos das mãos, passou a esculpir com o cinzel e o martelo amarrados aos punhos pelos ajudantes.
Produção. O Aleijadinho tinha mais de sessenta anos quando, em Congonhas do Campo, realizou suas obras-primas: as estátuas em pedra-sabão dos 12 profetas (1800-1805), no adro da igreja, e as 66 figuras em cedro que compõem os passos da Via Crucis (1796), no espaço do santuário de Nosso senhor Bom Jesus de Matosinhos. Encarnadas mais tarde pelos pintores Manuel da Costa Ataíde e Francisco Xavier Carneiro, tais figuras sofreram alterações indébitas em sua aparência, e só em 1957 foram restauradas nas cores originais pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Toda a sua extensa obra foi realizada em Minas Gerais e, além desses dois grandes conjuntos, cumpre citar outros trabalhos.
Certamente admirada em seus dias, já que as encomendas, vinda de vários pontos da província, nunca lhe faltaram, a obra do Aleijadinho caiu porém no esquecimento com o tempo, só voltando a despertar certo interesse após a biografia precursora de Rodrigo Bretãs. O estudo atendo dessa obra, como ponto culminante do barroco brasileiro, esperou mais tempo ainda para começar a ser feito, na esteira do movimento desvalorização das coisas nacionais desencadeado pela Semana de Arte Moderna em 1922.
Antônio Francisco Lisboa, segundo consta, foi progressivamente afetado pela doença e se afastou da sociedade, relacionando-se apenas com dois escravos e ajudantes. Nos dois últimos anos de vida se viu inteiramente cego e impossibilitado de trabalhar. Morreu em algum dia de 1814 sobre um estrado em casa de sua nora, na mesma Vila Rica onde nascera.
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