Wenceslau de Sousa Pereira de Lima
(Geólogo)
1858- 1919
Nasceu este ilustre geólogo na cidade do Porto, no ano de 1858.
Seus pais pessoas abastadas, proporcionaram-lhe uma educação diversa da normalmente seguida pelos filhos de outras famílias distintas, mandando-o em tenra idade para o estrangeiro onde se familiarizou no uso de línguas estranhas e ao mesmo tempo se habilitou com o conhecimento de toda a instrução secundária.
De regresso a Portugal, matriculou-se na Faculdade de Filosofia da Universidade de Coimbra, cujo curso completou com as mais elevadas classificações, que lhe proporcionara a sua admissão a exame de licenciado, no qual defendeu uma notável tese sobre os carvões naturais, tendo em seguida, a 26 de Novembro de 1882, obtido o grande doutor, isto é, a mais elevada recompensa científica, que um estudante pode receber.
Meses depois, achando-se vago um lugar de lente na antiga Academia Politécnica do Porto, apresentou-se a concurso de provas públicas, escrevendo e defendendo nessa ocasião uma nova dissertação sobre a função clorofilina. A maneira brilhante e distinta como se houve é atestada pelas inúmeras felicitações que recebeu e pela sua nomeação para o provimento do referido lugar.
Durante perto de 30 anos regeu com algumas intermitências, naquele estabelecimento de ensino superior, a cadeira de geologia, cultivando ao mesmo tempo com entusiasmo é profundo saber os estudos de paleontologia vegetal, em que foi um verdadeiro mestre.
Esta ciência estava então por assim dizer no seu início e o pouco que se conhecia da flora fóssil portuguesa era devido principalmente aos trabalhos de Sharpe sobre os vegetais fósseis de S. Pedro da Cova e do Cabo Mondego, de Bumbury, sobre exemplares provenientes das mesmas origens e do Bussaco, do Dr. Bernardino António Gomes, que descreveu a flora fóssil do nosso carbonífero ainda que com bastantes inexactidões e principalmente os estudos do Dr. Oswald Heer cognominado o Lineu de botânica fóssil, não só sobre os fósseis do continente português como os da ilha da Madeira.
O Dr. Wenceslau de Lima encontrando aqui um óptimo campo de investigações e seguindo os naturais impulsos da sua vocação entregou-se com todo o ardor ao estudo da paleontologia vegetal, mormente a referente aos terrenos carboníferos.
Esta dedicação por este ramo de estudos levaram, em 1886, o grande geólogo Carlos Ribeiro, ao tempo chefe da secção dos trabalhos geológicos, a encarregá-lo do estudo da flora fóssil portuguesa, ficando desde essa data pertencendo a esta repartição de estudos, com a categoria de engenheiro subalterno da 2ª classe e onde se manteve até à proclamação do novo regime.
Nesta data tinha já o Dr. Wenceslau de Lima a categoria de engenheiro chefe da 2ª classe do quadro de minas e desempenhava as funções de presidente da comissão dos serviços geológicos, que por direito próprio tinha assumido em 1908, pelo falecimento do general Joaquim Filipe Nery da Encarnação Delgado; o eminente geólogo cujos trabalhos sobre os terrenos paleógicos são uma coroa de glória de ciência portuguesa.
Foi durante este cicio de perto de trinta anos que Dr. Wenceslau de Lima publicou os seus principais trabalhos entre os quais são dignos de especial menção os seguintes:
"Notícia sôbre os vegetais fósseis da flora neocomiana do solo português", "Monografia do gênero Dicrano phillum (sistema carbónico)", "Notice sur une algue palèozoique", "Notícia sôbre as camadas da série permo-carbónica do Bussaco", "Note sur une nouvel Eurypterus Rothliegendes", etc.
É de lamentar porém que a sua obra científica não tenha o desenvolvimento e a extensão que era para desejar de uma pessoa de tão elevados méritos. Esta deficiência é principalmente devida ao facto da sua actividade intelectual não se ter limitado ao âmbito de ciência pura, mas ser quase permanentemente distraída para outras ocupações, por ventura as mais diversas, em que todavia prestou os mais assinalados serviços ao seu país.
Pouco tempo depois de ter ascendido ao magistério superior, entrou para a política filiado no antigo partido regenerador, tendo desempenhado os lugares de governador civil dos distritos de Vila Real, Coimbra e Porto, sendo também eleito deputado pelos círculos do norte do país em diversas legislaturas.
Mais tarde em 1901 foi eleito Par do Reino, tendo tomado assente na respectiva câmara na sessão de 17 de Março do mesmo ano.
Os assuntos que mais o prendiam nas Cortes eram os que se referiam à instrução pública, tendo entrado em diversos debates e devendo-se aos seus esforços a reforma do Conselho Superior de Instrução Pública do qual também fez parte.
Em 1903 assumiu a gerência da pasta dos Negócios Estrangeiros no ministério constituído nesta data sob a presidência do grande estadista Hintze Ribeiro. A ele se deve em grande parte o tratado de arbitragem com a Grã-Bretanha e o trado comercial com o império Alemão.
Em 1905 foi novamente Ministro dos Negócios Estrangeiros e em 1909 constituiu Governo sob a sua presidência, desempenhado ao mesmo tempo as funções de Ministro do Reino. Por esta ocasião foi feito também membro do Conselho de Estado, isto é a mais categorizada corporação política do antigo regime.
Em épocas diferentes desempenhou também vários outros lugares de realce como Presidente da Câmara Municipal do Porto. Director da Escola Médico-Cirúrgica e Provedor da Santa Casa da Misericórdia da mesma cidade, vice-presidente da comissão executiva da assistência nacional aos tuberculosos, vogal da comissão do Patronato Portuense, presidente da comissão anti-filoxérica do norte, etc.
A par disto foi também um viticultor notável, aproveitando os melhoramentos que se iniciavam no estrangeiro, dos quais estava sempre ao facto, para os empregar nas suas importantes propriedades, tornando-as numa das mais belas e produtivas do país.
O valor científico dos seus trabalhos valeram-lhe a sua admissão como sócio correspondente e mais tarde efectivo da Academia das Ciência de Lisboa e do Instituto de Coimbra.
Era Grã-Cruz e comendador das Ordens portuguesas da Tôrre e Espada, S. Tiago, Cristo, N. S. da Conceição de Vila Viçosa, da Legião de Honra de França, de Carlos III e Isabel a Católica de Espanha, de S. Maurício e S. Lázaro de Itália, de Vitória de Inglaterra, de Leopoldo da Bélgica, etc.
Wenceslau de Lima era o modelo do gentil homem naturalista; um intelectual que pelo seu estro e dotes de investigador disputara, primasias, aos nossos melhores homens de ciências.
Austero nos seus principais e inflexível nas suas crenças, a sua figura moral impunha-se a toda a gente inspirando respeito e admiração.
Intransigente nas suas ideias políticas às quais ficou sempre fiel até à morte com a firmeza e a serenidade de um estóico e não querendo de forma alguma a colaborar num regime com que não concordava, demitiu-se de todos os lugares públicos que desempenhava, isolando-se cada vez mais no convívio dos amigos e na atmosfera tranquila do seu "lar".
Afastado portanto das lutas políticas, durante os últimos anos da sua vida, a sua actividade intelectual orientou-se apenas nos trabalhos: de investigação científica, tendo em preparação um outro estudo sobre os terrenos carboníferos portugueses, que infelizmente não pôde terminar por a morte o ter surpreendido.
Perdeu assim a geologia portuguesa e o país, um vulto de altíssimo valor, que não é muito fácil de substituir tanto mais que infelizmente pouco são os portugueses, que se dedicam a este ramo de ciências.
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