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Marco Aurélio Rodrigues Dias

(Artista plástico)



Marco Aurélio Rodrigues Dias, artista plástico. Oscar D'Ambrosio, jornalista, integra a Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA) e é autor de Os pincéis de Deus: vida e obra do pintor naïf Waldomiro de Deus (Editora UNESP).Pintura com féPara muitos artistas, a fé desperta uma nova relação com o mundo, que acaba ganhando contornos artísticos, no desenvolvimento de atividades pictóricas ou escultóricas. Esse é o caso do carioca Marco Auréllio. Após se fixar em São Lourenço, Sul do Estado de Minas Gerais, passa a viver exclusivamente de seu trabalho artístico, devotando boa parte de sua obra a temas religiosos, como a exaltação de Nhá Chica e do Padre Vítor, santos de devoção popular da região.A obra de Marco Auréllio e a vida de Nhá Chica estão muito ligadas. Esta aparece em diversas telas e várias situações. Alta, morena e bonita, Francisca de Paula de Jesus Isabel nasceu em São João Del Rei, MG, em 1810, ficou órfã aos dez anos e dedicou a vida a orar pelos doentes e a ajudar os necessitados, ficando célebre por atender pedidos para achar bois, novilhas ou cavalos perdidos.Conta-se ainda que ela evitava tremores de terra, levitava sobre laranjeiras quando colhia frutos para os pobres, conversava com a Imaculada Conceição, a quem chamava de Sinhá, realizava curas e fez um trem, que não queria levá-la, devido a sua estranha aparência, sempre vestida em roupas escuras, parar. Esses milagres levaram a Diocese de Campanha, MG, a solicitar ao Vaticano a sua beatificação. Sua fama está ainda ligada ao escritor Paulo Coelho, que teria pedido a ela - e foi atendido - sucesso na carreira no mundo das letras.Em síntese, Nhá Chica está ligada às virtudes da piedade, caridade e oração, que, segundo os franciscanos leigos, são caminhos que possibilitam a qualquer pessoa ser santificada, mesmo que não seja um sacerdote. Por esses fatores, ela é venerada, tendo muitos seguidores na região onde viveu e morreu, em 1895. Mesmo em seu velório, conta-se que outro milagre ocorreu: o corpo de Nhá Chica exalava um perfume de rosas enquanto era visitado por aqueles que a adoravam.Entre os devotos de Nhá Chica, chamada de "santa do guarda-chuva" por estar sempre com um na mão, está Marco Auréllio Rodrigues Dias. Nascido em 28 de junho de 1952, no Rio de Janeiro, RJ, teve como modelo artístico o pai, um baiano que, logo após se casar, exerceu durante algum tempo a profissão de músico e pintor de quadros, no Rio de Janeiro. Pouco depois, para ganhar dinheiro para sustentar a família, abandonou a arte. Mesmo assim, ele lembra até hoje de um quadro do pai que estava na parede de sua casa.Na melhor tradição dos autodidatas, Marco Aurellio iniciou-se na pintura, sozinho, em 1972. Logo descobriu que podia trocar as telas que pintava por material de tinta para realizar novos trabalhos. Depois, veio a paixão por Van Gogh. Em 1978, participou de um concurso de desenho promovido pela Prefeitura do Rio de Janeiro, obtendo o terceiro lugar, recebendo uma medalha de bronze concedida pela Divisão de Parques e Jardins da Prefeitura.Depois desse concurso - único no qual participou - em 1980, mudou para São Lourenço, MG onde parou de pintar e passou a trabalhar como vendedor numa loja de artesanato. Para matar o tempo, desenhava. No momento em que riscava um espantalho numa folha de papel ofício, turistas entraram, olharam as mercadorias e se preparavam para sair. Uma delas, porém, viu o desenho inacabado, perguntou de quem era e pagou o preço estabelecido por Marco Auréllio.O artista começou assim a sua carreira profissional. Decidiu, a partir de 1995, viver profissionalmente da venda de seus quadros. Fez inclusive um pedido a Nhá Chica, para que o ajudasse a comercializar os seus trabalhos. Assim, não teria que mudar de profissão, após casar, como aconteceu com o pai.Com o desenrolar de sua carreira, Marco Auréllio sentiu que havia sido atendido. Comprou então um terreno e, com o dinheiro que obtinha na venda de quadros e esculturas, começou a construir, em 1996, uma capela para Nhá Chica, hoje incluída nos roteiros turísticos que incluem o Sul do Estado de Minas Gerais.Na capela, Marco Auréllio vende os seus trabalhos, que podem ser inseridos na chamada arte naïf (palavra de origem francesa, que significa "ingênuo"). Isso ocorre pela espontaneidade com que eles são pintados. O artista revela não acreditar em retoques ou numa concepção racional da arte. Sua característica mais marcante é justamente colocar nas telas a forma primeira como as idéias vêm à sua mente.Se inicialmente, ele pintava casarios bonitos e comportados dentro de uma tradição que valoriza o belo em si mesmo, pouco a pouco ocorreu uma alteração no sentido de traços mais arrojados, que buscam preservar a inspiração no estado mais primitivo possível, ou seja, com o máximo de autenticidade na passagem das imagens mentais para o suporte pictórico.As imagens de Nhá Chica, do Padre Vítor - primeiro sacerdote negro ordenado pela Igreja católica brasileira, no início dos anos 1850 -, de Lázaro de Freitas - um portador de hanseníase da região que, após falecer nos anos 1950, adquiriu fama de realizar milagres, como curas de doenças de pele - e de telas em que eles aparecem juntos ou com divindades como a Imaculada Conceição revelam o estilo inconfundível de Marco Auréllio.Suas pinceladas espessas, cores geralmente escuras e imagens de cunho religioso compõem um conjunto muito significativo não só do imaginário religioso do Sul de Minas, mas também dos elos entre a pintura e a escultura autodidatas. Marco Auréllio trabalho com ambas e atinge resultados expressivos.A capela que o artista construiu em São Lourenço é muito mais do que a obra de um devoto. Trata-se de um monumento à criatividade graças à forma como os materiais escultóricos e pictóricos são trabalhados de maneira surpreendente, num resultado que muitas vezes lembra o expressionismo alemão.Especificamente em relação à pintura, as telas de Marco Auréllio merecem plena atenção pelo talento na criação de atmosferas plenas de misticismo. Quando ele elogia as crianças famintas nordestinas e os carregadores de café de Portinari ou a liberdade criadora de Picasso, oferece as pistas do que há de melhor em seus trabalhos: a miséria do povo, o sofrimento de santos de cunho popular e a inexistência de limites para a sua criação.



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