CARLOS JACCHIERI
(Cenógrafo)
1921-2004
Carlos Jacchieri nasceu em São Paulo, capital, no bairro da Mooca, em 21 de dezembro de 1921. De família italiana, numerosa, de operários, tinham eles, porém, regras firmes de viver, e eram, como diz Jacchieri, “de uma dignidade excelente”. O pai era artesão, escultor e pintor, e o menino Carlos cresceu em meio às coisas artísticas, vendo de perto como eram feitos os vitrais das igrejas. Após o primário e o secundário entrou para o Liceu de Artes e Ofícios. Não teve condições de pagar uma faculdade, e parou os estudos. Só bem mais tarde é que fez a Faculdade de Filosofia, mas como ouvinte. Tendo começado a trabalhar aos oito anos, conseguia sempre ter o “seu dinheirinho”, embora ajudasse em casa. O principal é que conheceu muita gente boa. Trabalhou também na Vasp, como mecânico. Teve sempre uma personalidade política, tendo praticamente nascido e crescido dentro de “aparelhos” comunistas. Durante uma greve, perdeu o emprego na Vasp e montou o “Teatro de Bonecos”. Na época, estava nascendo o Museu de Arte de São Paulo, e Jacchieri ficou conhecendo Suzana Rodrigues, Pietro Maria Bardi, e se engajou no que havia de melhor em São Paulo, em Artes Plásticas. Virou cenógrafo. Foi assim que chegou ao famoso T.B.C. Fez também cenografia para Otelo Zeloni, que era casado com a bailarina Laura Moret, no Teatro Colombo. Fez cenários para Dulcina e Odilon, grandes nomes do teatro da época. Trabalhou para Sergio Cardoso e todos os importantes de então. Foi quando um dia, foi procurado por Cassiano Gabus Mendes, que lhe falou sobre a inauguração da TV Tupi – Difusora, primeira emissora de televisão do Brasil, convidando-o para ser o cenógrafo. Carlos Jacchieri aceitou, pois como havia trabalhado também para a Companhia de Cinema Vera Cruz, era sem dúvida, o mais qualificado. Transformou-se no primeiro cenógrafo de televisão da América Latina. Na TV Tupi era tudo uma enorme experiência, mas Jacchieri foi saindo-se muito bem, tanto que fazia uma média de vinte cenários por dia. Uma loucura! Jacchieri conseguiu alguns auxiliares e trabalhavam em módulos, como os brinquedos de montar de criança. As divisórias eram de pano, como no teatro, para ficarem leves. Os grandes produtores e diretores de espetáculos da época eram o Jota Silvestre, Walter George Durst, Dionizio Azevedo e com todos eles Jacchieri trabalhou. Ficou na TV Tupi de 1950 a 1956, depois do que, foi para a TV Record, e a seguir para a TV Paulista. Em todas as emissoras fez os cenários dos principais programas. Mas, por outro lado, ligou-se também a movimentos filosóficos, tendo montado a Instituição: “O Labirinto”, que foi fundada por ele e Oswald de Andrade. Ali criou a tese “Dearte”. Começou a dar aulas de arte e de filosofia, tendo se afastado da cenografia e se ligado mais à educação. Então, através da arte, se transformou em um educador, tendo escrito um livro sobre isso: “A infância da arte”. É uma teoria da antogênese e da antropogênese. Escreveu depois, mais onze livros. Hoje ele é um sociólogo, filósofo e artista. Como desde pequeno era esquerdista e mesmo comunista, Jacchieri foi preso dezoito vezes. Com isso sua sobrevivência foi ficando difícil, embora ele continue forte, firme e convicto de suas teses e de seus desejos. Seu único apoio foi a Fundação Cultural de Curitiba. Nunca recebeu nada do Governo de São Paulo. Cheio de espírito de brasilidade, Carlos Jacchieri, no entanto, diz que os brasileiros têm que levantar a cabeça e sentir orgulho de suas origens e de sua realidade, pois, para ele, o Brasil é a única civilização em desenvolvimento do século vinte. Esse é o grande Carlos Jacchieri, o primeiro cenógrafo da América Latina.
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